Racismo nas narrativas cotidianas do Parque.

As discriminações de gênero vivenciadas por mulheres negras da favela se apresentam em dois tempos históricos: “antigamente” e “tempos de hoje”, demarcada por um tempo geracional que inclui mães e avós. A discriminação de gênero se apresenta emaranhada ao exercício da maternidade. A capacidade da mulher “em si” se expressa pela “força da mulher”, nos domínios da casa, no cuidado da família e vêm conjugados ao privilégio divino da maternidade e é assustador ver o quanto as nar...rativas mostra um ciclo se atualizando dentro dessa dinâmica que é viver em uma favela com uma teia de trocas e referencias.


"Ser mãe me ensinou o valor da minha mãe e as dores que ela passou para me criar sozinha. Minha família é feita de mulher guerreira Fabbi Silva, mulher que nunca baixou a cabeça para homem nenhum. Minha avó conta, que a mãe dela foi arrancada a força de casa pelo meu bisavó e conseguiu fugir e vir para o Rio. Aqui enfrentou o inferno para criar minha avó e os outros filhos. Minha mãe tb guerreira. Vendo você falar de Dandara só penso que as mulheres da minha família com certeza deve ter um tanto de Dandara, pois para aguenta tanto sofrimento e abandono só sendo uma guerreira mesmo. Sabia, que foi na Roda q entendi que a minha avó foi estuprada e viveu em cativeiro?" (Suzana, 35 anos -mulher da Roda Poética do Parque das Missões).


"Direito de escolha, né? Que antigamente a gente não tinha né? Eram muito submissas ao homem, submissa às leis, as vontades soberanas, né? Hoje em dia a escolha, a liberdade ... Acho que é o maior direito que conseguimos até hoje e temos que lutar pra continuar porque tão querendo barrar já, né? Pra continuar, a mulher estudando, a mulher votando, a mulher se virando sozinha, sem ter que depende de macho. Minha avó que o diga e a minha mãe? Meu pai nem precisava falar alto. Com um olhar a gente entendia que minha mãe obedecia ... Agora tá muito desigual ainda, sempre em firma, mesmo cargo, a mulher sempre ganha menos que o homem, em muitos aspectos ainda tá, tá bem assim... Tem o preconceito, né? Velado mas tem, mas é isso aí e se for negra então" (Adriana, 39 anos - mulher da roda poética do Parque das Missões)

"Não sei se já sofri uma atitude racista. Nem sei o que realmente é racismo. Se for só ser chamada de macaca nunca sofri, mas realmente fui humilhada quando ganhei bebe, já me disseram q meu cheiro era muito forte por ser preta"

"Não gosto de fazer compra. Só por ser preta pensam q vou roubar"

"Ser mãe de um homem negro e sentir a dor do parto toda vez que ele sai e não me fala onde estar"

Tive uma patroa, que ficava colocando objetos pela casa para me testa. Dizia, que preto sempre roubava, mas q eu era esperta. Como se ser honesta fosse algo errado. Aquela ali pagou em vida todo mal que ela fez. Nenhum pretp podia andar no elevador com ela. Surtava. A filha dela, uma famosa q adora possa de boa moça engana bem tb"

"Me negaram anestecia no parto do meu filho. Meu marido ouviu da enfermeira q preta aguenta dor"

"Ainda bem que a minha filha nasceu com um cabelo melhor do que o meu"

"Navinho negreiro e senzala me lembra viver na favela e andar de trem."





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