Parque das Missões: violências do cotidiano de uma favela que não está no mapa

A Constituição de 1988 estabeleceu que o Estado é o responsável pela preservação da integridade física e patrimonial das pessoas, mas vendo essa foto o que te remete? Será que essas crianças têm esse direito respeitado? Será que somente o Estado é o responsável pela preservação da ordem pública?
Os vários segmentos que constituem a sociedade possuem objetivos em comum, e vivem sob o manto de um conjunto de regras que foram previamente estabelecidas. O Estado tem um dever para com os administrados, mas todas as pessoas são responsáveis pela preservação da ordem pública em seus diversos aspectos: segurança pública, salubridade e tranqüilidade.
Viver em Duque de Caxias e conhecer seus direitos é algo que foge a realidade. A morte de um cidadão trabalhador ou mesmo de um infrator possui conseqüências para todo o grupo social, mesmo que este não acredite ou não aceite os fatos. A violência não é apenas uma questão de polícia e não será resolvida com o aumento do número de vagas no sistema penitenciário. A realidade está cada dia mais próxima e o número de homicídios comprova que alguma coisa está errada no atual sistema. O que dizer das mortes que não são computadas? O que dizer daqueles que são jogados nesse mesmo valão que hoje as crianças da imagem em questão brincam?
As pessoas querem segurança e clamam por políticas sociais e a melhoria das condições de vida. A falta de distribuição de renda e a implantação de políticas educacionais que possam atender as necessidades da população são questões que devem ser enfrentadas na busca da diminuição da violência.
A pobreza não justifica a prática da violência. O rico e o pobre devem cumprir a lei e esta deve ser igual para todos, sob pena de se cometer injustiças. Mas as pessoas também possuem o direito a uma vida com dignidade, que está representada por uma real possibilidade de crescimento profissional e econômico e não é isso o que vemos acontece na baixada. Duque de Caxias é um dos municípios que mais arrecadam em impostos e é também o que menos investir em educação, cultura e lazer.
A realidade de muitas crianças como as da imagem é de total abandono. O Parque das Missões é uma das comunidades da baixada considerada mais violenta dentro da política de segurança do Estado, mas a pergunta que não calar é: como modificar essa realidade tendo em vista a dificuldade encontrada em trazer projetos educativos e culturais para esses territórios abandonados? Com a política de segurança das UPP’s esses territórios tiveram um aumento significativo no grau de violência. A pizza precisa ser dividida em partes iguais, mas todos têm fome e querem o pedaço maior e ainda precisam dividir com aqueles parentes famintos que surgem do nada para roubar a parte dele.
Uma analogia que remete a realidade. Hoje vemos o quantitativo muito maior de crianças envolvidas com o tráfico e vemos também a naturalização desse envolvimento. Sempre morei em favelas e antes era proibido comercializa drogas para crianças e se um pai pedia que uma criança comprasse o mesmo era chamado para presta contas. Hoje não se tem mais isso. Vemos crianças cada vez mais novas não só comprando como comercializando. A ostentação da violência é estatuo maior de poder. Como falar para esses jovens que o caminho seguido por eles é errado se não apresentamos uma alternativa real de que existe outras opções?
A realidade é que o exemplo ficar na esquina ostentando tênis de última geração divulgado pelas novelas vista por eles. A TV que destila veneno de que bandido bom é bandido morto é a mesma que divulgar na sua grade o quanto um garoto pode ser melhor do que o outro por usar algo que os outros não tem.
Enquanto pensamento social, estamos focados demais na punição e nos esquecemos das raízes causadoras desta realidade violenta e abjeta. Precisamos identificá-las e saná-las. Isto o poder público não faz sozinho, ainda que tenha de ser cobrado permanentemente. Mais que punir o criminoso, é preciso evitar o cometimento do crime.
É preciso uma ação conjunta da família, entidades civis e setores da educação para que possamos investir na formação das crianças e evitar que, mais tarde as páreas da sociedade. Combater a violência não é um problema exclusivo das polícias. Cada um de nós pode contribuir formando e educando nossas crianças, ensinando valores. É mais fácil prevenir que reprimir. Na verdade, é a única solução.





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