Mais educação e esporte e menos violência, por favor!
A
experiência de mora em uma comunidade violenta e totalmente abandonada pelo
poder público fez com, que sempre buscasse algo além dessa triste realidade e
foi através dessa busca, que surgiram projetos como Apadrinhe um sorriso e
projeto de educação de jovens e adultos Criolla.
A intencionalidade desse texto é fazer uma reflexão com e sobre a vida cotidiana de um grupo de jovens da Comunidade do
Parque das Missões no município de Caxias, Estado do Rio de Janeiro.
Assim... Olhando para esse lugar quase
impossível, lugar que para muitos ainda é invisível que investimos nosso desejo
de abrir essa conversa, qual seja: falar desse grupo de jovens negros que fogem
a lógica de muitos, que falam que dentro da comunidade só existe vagabundo e
viciado. Investigar o cotidiano desses
jovens, cuja complexidade nos causa espanto e admiração, horror e curiosidade.
Pesquisar para saber como eles vivem/agem neste espaçotempo de tantas adversidades em meio à pobreza, ao
preconceito e a discriminação racial e social por serem moradores de
comunidade.
Portanto, nossa
intenção com esse texto é buscar um novo olhar sobre a vida cotidiana desses jovens. Vidas sofridas, mas não menos dignas;
não menos rica de detalhes, cujas histórias aguardam para serem contadas e
conhecidas.
Histórias que aos olhos de muitos, podem
parecer “banais” e sem importância, mas que, a nosso ver, pode nos permitir o
que Benjamin (1985, p.) nos aconselharia como tarefa necessária: a de contar a
história dos vencidos pelo ponto de vista dos vencidos. Escutando-as, para
talvez escutar os ecos de outras vozes que emudeceram.
Conforme aprendemos com Brecht apud Benjamin (1985, p.225) a tarefa que
aqui nos propomos empreender é a de “pensar na escuridão e no grande rio que
reinam nesse vale, onde soam lamentos”. Reescrevendo e refletindo com e sobre essas histórias, esperamos,
assim, contribuir para uma percepção mais critica da realidade em que vivem, e
que ao percebê-la despertem-nas para o desejo de transformação social.
“Cada dia nessa favela é tenso tia, pois
sobrevivemos lutando. Minha mãe já enterrou dois filhos e eu torço e estudo
para não ser o terceiro”. (Wilton, 22 anos ).
Assim como Boaventura em nosso trabalho buscamos
Pensar o Sul como não houvesse Norte, pensar a
mulher como se não houvesse homem, pensar o escravo como se não houvesse
senhor. O aprofundamento da compreensão das relações de poder e a radicalização
da luta contra elas passa pela imaginação dos dominados como seres livres de
dominação(op. cit. 101).
Ele também se funda na crença que nem sempre dominado sucumbem ao vencedor.
Haverá sempre resistências, astúcias, dissimulações, e inversões.
Contra o mito da passividade, Certeau coloca o signo
da revolta e da resistência do homem oprimido que, com suas táticas de consumo, metaforizam — deslocam,
transformam — a ordem dominante e fazem-na funcionar de outro modo, causando
muitas vezes surpresa e indignação a seus "senhores". É isto também que gostaríamos de verificar nesta
comunidade observando como a educação e o esporte são agentes transformadores
sociais.
Ao passar pela linha vermelha tanto indo no sentindo do Rio de Janeiro ou
seguindo para outros bairros que se interligam por essa via, o que se vê são
casas que dividem espaço com grandes outdoors.
A pessoa que passa por ali cotidianamente não imagina a pluralidade de práticas e sujeitos que existe
nessa comunidade.
Os saraus de poesias e os esportes como Longboard e Slackline são algumas táticas citada por
Certeau, pois são elas que conseguem tirar essas crianças e jovens das mãos do
tráfico e da marginalização.
Torno a dizer, que percorrer esse espaço, agora não só como moradora e
sim também como pesquisadora me possibilitou ver a importância de trabalhar
para visibilidade dos sujeitos que ali residem e de suas práticas.
Aquilo que me interessa nesse trabalho são as trajetórias diversas dessas
crianças e jovens e seus cotidianos. Neste sentindo, pretendo atentar para as
necessidades de se buscar novas formas de trabalhar pedagogicamente as
narrativas e as práticas culturais, respeitando-se os diferentes contextos
educativos envolvidos, pois somente assim conseguiremos lidar com a violência vista nesses espaços.
Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios
sobre literatura. 4ª Ed. São Paulo, SP: Brasiliense, 1985.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes do
fazer. Petrópolis, RJ: vozes, 1996.
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